Convento de Cristo em Tomar – Portugal
Foi criada em Jerusalém, no ano de 1.118, a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (que ficou conhecida como Ordem dos Templários), com objetivo de defender os territórios conquistados e proteger os cristãos em peregrinação pela Terra Santa.
Os cavaleiros eram monges (submetidos a votos de castidade e pobreza) e também guerreiros de elite que, com o passar do tempo, foram adquirindo grande poder (pela influência que exerciam junto aos monarcas e ao alto clero) e riquezas (terras, propriedades e dinheiro, multiplicado pelos juros dos empréstimos concedidos à membros da nobreza).
Para acabar com o poderio da Ordem dos Templários – e confiscar seus bens – foi decretada sua extinção em 1312 pelo Papa Clemente V, influenciado pelo rei francês Felipe IV. Os Cavaleiros Templários passaram a ser perseguidos e vários foram executados publicamente na França (nas fogueiras da Inquisição).
Porém D. Dinis, rei de Portugal, promoveu hábeis diligências junto à Santa Sé para criar uma nova congregação que deveria defender o país contra os avanços do Islã nas proximidades de suas fronteiras. Em 19 de Março de 1319 o Papa João XXII criou a Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, à qual o rei português incorporou os cavaleiros, os bens e os privilégios da extinta Ordem dos Templários e, em 1356, determinou sua instalação na antiga sede templária: o Castelo de Tomar.
Situada no Distrito de Santarém, a 136 km de Lisboa (com acesso pela Via A-1), a cidade de Tomar possui um fabuloso conjunto monumental constituído por: Castelo Templário, Convento da Ordem de Cristo (da época do Renascimento), cerca conventual – atualmente conhecida como Mata dos Sete Montes, Ermida da Imaculada Conceição e o Aqueduto dos Pegões.
Ao transpor os portões do Castelo de Tomar a imaginação abre as asas e inicia um vôo panorâmico sobre a história, as tradições, as lendas e os costumes dos monges/cavaleiros que ali habitaram e onde enfrentaram acirradas batalhas.
A fortaleza, construída a partir de 1.160, apresenta características típicas da arquitetura militar: dupla cintura de muralhas e paredes de pedra (denominadas “alambor”) que dificultavam a escalada do inimigo até as torres, dentre as quais a Torre de Menagem (mais alta, proporcionando melhor capacidade de vigilância).
A Praça de Armas, onde os Cavaleiros treinavam para o combate, situa-se em frente à Charola (oratório privativo dos monges), de arquitetura em estilo bizantino. A construção concluída em 1190, sofreu grandes alterações durante o reinado do Infante D. Henrique (entre 1420 e 1460) para que pudesse acolher as funções litúrgicas.
É preciso tempo para apreciar a riqueza decorativa de seu interior, principalmente diante do octógono central de altares, inspirado na Rotunda do Santo Sepulcro, no qual os monges-cavaleiros rezavam lado a lado formando um círculo.
Impressiona a perfeita simbiose de elementos arquitetônicos e ornamentais distintos (românico, bizantino, gótico, manuelino), que foram sendo agregados, harmonicamente, ao longo dos sete séculos em que foi lapidado o Convento de Cristo.
Em 1420 o Infante D Henrique, o Navegador, transformou a casa militar do Castelo de Tomar em convento com a instalação de dois claustros em estilo gótico: o da Lavagem e do Cemitério
No início do século XVI o rei D Manuel I transformou a Charola em capela mor da igreja conventual, enriquecida com esculturas, pinturas sobre madeira, murais e estuques.
Na fachada ocidental da igreja está um dos ícones do estilo decorativo manuelino, de autoria de Diogo de Arruda: a “Janela da Sala do Capítulo”.
Adornada por um exuberante universo figurativo, que inclui temática marítima (cordame, bóias, esfera armilar), símbolos da monarquia e da Ordem de Cristo (brasão, cruz heráldica) e elementos naturalistas (folhas, ramos), é um exemplo inigualável da ornamentação que marcou a época dos Grandes Descobrimentos em Portugal.
O rei D João III, coroado em 1528, expandiu o convento para além dos muros do Castelo, em torno da igreja que havia sido ampliada por seu pai (D Manuel I). Esse novo conjunto monástico, erguido entre 1531 e 1552 com projetos dos arquitetos João de Castilho e Diogo Arruda, acrescentou cinco claustros à estrutura já existente.
Sob o reinado dos Felipes de Espanha as obras no Convento de Tomar tiveram continuidade. Em 1562 foi concluído o Claustro Principal, projetado por Diogo de Torralva e considerado uma das obras primas da Renascença Européia, destacando-se a fonte central com o formato da Cruz dos Templários, abastecida pelo Aqueduto.
No Claustro do Cemitério foi edificada, em estilo maneirista, a Sacristia Nova. Sua abóbada foi decorada com a esfera armilar, o escudo coroado, a cruz filipina e o leão (referência ao brasão de armas espanhol). O piso de mármore rosa e branco contrasta com a ardósia negra. As paredes brancas foram enfeitadas por filetes de ouro. É mais uma preciosidade do Convento de Cristo, que traz à lembrança um momento histórico de profunda ligação entre Portugal e Espanha.
Mas, indiscutivelmente, a obra mais marcante dos reis espanhóis, nesse período, foi o aqueduto com 6 quilômetros de extensão, construído sob o Vale da Ribeira dos Pegões, para abastecer o Castelo de Tomar, ao qual se liga na fachada sul.
No final do século XVII, D. João IV realizou as últimas obras de grande vulto no Convento: a Enfermaria e a Botica Nova, inauguradas em 1690.
Com a Revolução Liberal, em 1834, as ordens religiosas masculinas foram extintas. Antonio Bernardo da Costa Cabral, Conde de Tomar (um influente político), adquiriu em 1835 as terras da cerca conventual e da antiga vila do castelo como também as edificações da parte sul do Convento. A ala poente do Claustro dos Corvos foi transformada em um palacete neoclássico (como ditava o gosto e a arquitetura do século XIX), onde residiram várias gerações – até o início do século XX, quando o Exército ocupou as instalações do Castelo. Posteriormente, o Seminário das Missões Ultramarinas foi ali alocado.
Somente na década de 1980 o Estado reassumiu a posse do conjunto monumental, inscrito na lista do patrimônio mundial da UNESCO em 1983.
O melhor para a visita é dispor dos serviços de um guia, não apenas pelas amplitude e complexidade das instalações mas, sobretudo, pelas histórias e curiosidades sobre os hábitos de homens que se dividiam entre a guerra e o devotamento religioso.
Para finalizar, algumas dicas:
1º) Antes de chegar ao Castelo de Tomar, não deixe de fazer uma rápida parada na torre do Aqueduto dos Pegões. A vista do entorno é magnífica.
2º) A cidade de Tomar é encantadora. Merece uma visita e a busca pelo tradicional doce: “Fatias de Tomar” – uma receita conventual a base de gemas, açúcar e água, cozida numa panela só encontrada nessa região (que permite acrescentar água por um funil, durante o cozimento em banho maria).
3º) Para complementar a Rota dos Templários é indispensável conhecer o Castelo Almourol, situado numa ilhota no meio do Rio Tejo, distante cerca de 27 km de Tomar.